domingo, 24 de fevereiro de 2013

Do sentimento do mundo


De onde nós somos sempre vai dizer alguma coisa sobre nós. Essa é uma sentença que eu escrevo neste momento mas que na verdade está plantada dentro de todo mundo.

Estes dias me encontrei com uma conterrânea matonense, e ao me dizer sobre um problema que ela teve com o aquecedor na casa dela, disse “agora vou torar o pau no aquecedor”. Achei genial. Senti o sol e o cansaço de quem sobe a Sinharinha Frota.

E depois emendei alguns outros pensamentos, na verdade condensei porque esse assunto anda borbulhando na minha mente não é de hoje. O lugar de onde somos é claro que sempre vai nos traduzir em algum momento, mas acho que isso tem uma proporção maior quando se é do interior. 

Durante muito tempo eu não gostei de ser do interior. Mas depois de Coimbra, um período em que passei longe de tudo que me era familiar, eu voltei em agosto muito feliz para o Brasil e muito mais contente para Matão. Passei um final de semana em São Paulo, não entendi muito bem qual é a dessa cidade. Claro, ainda vou achar a maior aventura ficar presa no trânsito, e se tiver enchente, a adrenalina sobe 100%. Mas acontece que até essa minha loucura pelas estações de metrô dá-se porque sou do interior. Se fosse de São Paulo iria xingar como todos.

Matão também me faz ver Coimbra, Porto, Barcelona, Arles, Londres e etc. de um jeito diferente. Eu pego tudo o que essas cidades oferecem e as traduzo em importância para uma menina de Matão. Acho que é porque sou do interior é que sempre vou me impressionar com uma viagem, seja para Oslo ou para Aveiro, aqui do lado.

Outro dia na aula o professor tentando explicar Drummond disse que toda a sua poesia vem a ser o "sentimento do mundo" que um itabirano tem enquanto vive longe de sua terra. E assim é a vida de quem às vezes sai de sua cidade pequena, seja por um final de semana ou pelo resto de uma vida. É o eterno sentimento do mundo dentro de um coração naturalmente pequeno, e talvez por isso transborde tanto.

Fica aqui registrado o charme que os interioranos tem quando dizem “vou este feriado para Itabira, Figueira da Foz, Santo Amaro, Marapoama, Cruz das Almas, Nova Granada, Nova Iguaçú, Matão...”