sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Cada pessoa tem a idade com que nasceu. Se nasceu com 20 anos, tem 20 anos; se nasceu com 80, tem 80.”(*)


Essa foto foi tirada no início do último verão. Estava em viagem pelo Sul da França.
Mas ela não é minha, é de um amigo e única companhia durante a viagem. Quando a vi pela primeira vez, e isso foi há poucos dias, eu lembrei exatamente da hora em que foi tirada, em que parte de Carcassonne estávamos e o que estávamos esperando. Depois, eu lembrei do sol, do forte sol de meio dia, de um dia de verão. E também consegui repassar todo o resto do nosso trajeto, que foi de volta a casa.

Apesar de eu ter 22 anos, eu sinto uma memória tão extensa dentro de mim, a ponto de achar que minha mente tem 80. 

Eu sei que todos tem memórias, mas creio que algumas pessoas as sentem mais do que as outras. E é por isso que eu sou, portanto, aquele tipo de velha que adora ouvir as histórias dos amigos. 


(*) Estava pensando em isso tudo, quando encontrei essa frase, que eu chamaria de sentença, de António Lobo Antunes.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Das coisas que eu fiz - Parte 3


Depois de Oslo, fomos para o local que me era esperado. Estou dizendo de Londres. Foi muito bom ter deixado Londres por último, porque viagens são ótimas, mas acontece que tenho essa velha dentro de mim, e depois de quase 9 dias viajando, é bem provável que eu esteja cansadinha. Cansadinha, mas não em Londres.

Devo dizer que a cidade não é tão calma como eu estava esperando. Ao contrário disto, há muitas obras, muitos carros e pessoas. Aliás, dentro do último grupo estão os turistas. Sei que estou sendo um pouco hipócrita agora, mas os turistas um pouco que poluem o espaço, e tenho a impressão de que não conheço realmente o ambiente, apenas um lugar que as pessoas gostam de fotografar. Às vezes nem sinto a real atmosfera do lugar. Turistas, tenham calma.

Mas, como estava dizendo, se Londres é movimentada, ela é muito silenciosa pelo o tanto de pessoas que há nela. É bem verdade que o meu parâmetro de cidade grande, de cidade importante,  é São Paulo. E talvez São Paulo não seja parâmetro para nada. São Paulo é uma cidade que toda a sua loucura, é só dela.

Quando chegamos, teve uma certa decepção: chuva, vento e frio. Porém, eu pensei um pouco e cheguei a conclusão de que Londres estava me tratando como se eu fosse uma moradora comum, isto soou como um elogio a mim. A decepção passou. E fomos explorar a cidade, andar e andar.

No segundo dia o sol apareceu. E fomos conhecer o Palácio de Buckingham, o Big Ben, Abadia de Westminster, Picadilly... e depois teve aquele roteiro específico, aquele roteiro, que além de ser de turista, mas de quem realmente queria estar em Londres: Soho, Abbey Road e Notting Hill.

Notting Hill merece além de um parágrafo, meu coração. É bem verdade que há aquele filme com Hugh Grant e Julia Roberts. Mas este bairro me pareceu injustiçado por ser lembrado por causa de um filme comédia romântica. Portobello Road tem toda a sorte de lojas de antiguidades: móveis, câmeras, discos, roupas... Bancas com placas engraçadinhas. Casas bem cuidadas, flores que parecem durar todas as estações. Mais uma vez vou ser hipócrita: acho que moraria em Notting Hill.

No terceiro dia fomos ao museu, ao National Gallery. E o museu tem Van Gogh, tem Leonardo da Vinci, Rubens, Van Eyck... Obras que eu fico emocionada de estar frente a frente, sempre. Mas além das obras, gostei muito do ambiente, e eu, como uma futura professora, fiquei com inveja dos londrinos. Digo isso porque perdi a conta de quantos grupos de crianças com seus professores eu vi visitando o museu. As crianças sentavam-se no chão, e ouviam a explicação dos professores, e estes falavam sobre a tela, sobre o artista, o movimento que ele se encaixa, e mais do que isso, explicavam sobre a época. Vi aquele conceito de interdisciplinaridade dar certo pra valer. Algumas coisas fazem sentido.

E depois de 9 dias, voltamos para casa. Com uma mochila de roupas sujas, com máquinas fotográficas com memórias quase lotadas. E com nossas mentes pulsando de vontade de sentar e repassar toda a nossa viagem em nossos blogs.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

(creio que escrever serve também para por uma ordem às ideias. Porque na minha cabeça tudo funciona bagunçado: eu vou pensando, vou tento ideias, vou planejando e também vou vivendo, estudando, conversando, cozinhando... e quando vejo todas essas coisas estão soltas, precisando de uma organização - às vezes até melhor que a do meu quarto - e é nesta hora que escrever faz a diferença na minha vida. E agora preciso escrever pra por em ordem todas as saudades que sinto)

domingo, 14 de outubro de 2012

Das coisas que eu fiz - Parte 2


Após Madrid, seguimos para Oslo. Oslo?

Oslo é a cidade mais civilizada que já vi. Civilizada de verdade, onde os carros não correm, os pedestres caminham com calma, não há protesto político pelos muros e estou crente que todos falam inglês (e sem sotaque). As balconistas do Mc Donalds parecem que estão trabalhando por lazer, e atendem com uma certa pressa porque o motorista está vindo buscá-las para levá-las ao jogo de tênis. Só pode.

Em Oslo, capital da Noruega, eu senti, enfim, que já não era mais verão. O Outono de fato começou lá, e acho que o outono norueguês é o inverno de Portugal. Depois de um calor em Madrid, frio de 7°C na Noruega.
Passamos lá três noites e dois dias. O primeiro dia, melhor, noite, saímos sem rumo. Fotografando as ruas da cidade e vendo toda aquela organização. Da rua olhávamos as janelas dos prédios e víamos os lustres e os papéis de paredes dentro das casas e restaurantes. Segundo dia: dia de museu. Vimos O Grito, de Munch e muitos outros bons quadros. Adorei este museu, mesmo.
No último dia, nos afastamos do centro. A ponto de pegarmos um metrô em busca do museu viking e quando pedimos informação, a mulher que educadamente nos atendeu, pegou o nosso mapa e nos disse em bom inglês: vocês estão fora do mapa. Ok, é hora de rever o nosso senso de direção.  

Mas deste último dia fica registrado para sempre em minha memória o parque com esculturas, coisa muito maluca que não sei se compreendi. O nome do local é Vigelandsparken. O local em si é lindíssimo, eu que viajei com a minha Canon (meu novo afeto) surtei de tanto fotografar folhas com coloração de outono. Mas aquelas esculturas, não sei muito bem.

Também fomos ao museu viking! Adorei. Barcos vikings de verdade! E vendo tão de perto pude ver como eles foram caprichosos em construir seus artefatos. Eu saí de lá pensando como que as civilizações antigas tinham tanto capricho e tanta noção de estética para produzir seus artefatos, que na verdade deveriam, acima de tudo, ter uma utilidade. Demorei para ter um raciocínio simples, mas enfim cheguei a conclusão de que todas aquelas peças são tão lindas porque junto com a utilidade tinha a unicidade da ferramenta. Se gastava muito tempo para produzir um simples capacete (ou elmo), por isso o cuidado e o capricho. Nem vou ser clichê e terminar o parágrafo dizendo que ao contrário de hoje, que... 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Das coisas que eu fiz - Parte 1


Desde quando voltei a Portugal andei fazendo muitas coisas. Umas foram planejadas durante a minha vida toda, enquanto que outras foram decididas em 15 minutos (e nem por isso são menos importantes).
Vou começar escrevendo sobre as viagens. Viagem é uma coisa louca de se fazer, às vezes você vai esperando ver aqueles lugares de cartões  postais, porém você chega e percebe que é mais, os lugares tem vida, tem pessoas andando por eles, tem cheiro, tem calor e frio. E tudo é tão característico, é tão diferente e único. Às vezes eu viajo com ar blasé e volto pra casa já chorando de saudade deste novo local.

Madrid foi praticamente assim. Muita gente diz “prefiro Barcelona”. Eu entendo e eu viajei achando que preferiria Barcelona. Mas aí, Madrid apelou comigo. Essas cidades espanholas tem um ar de filme do Almodóvar que não é fácil. Parece que todo mundo é cult, que todo mundo entende de combinar cores ao mesmo tempo que são seguras de si, por isso não tem medo de arriscar (seja na roupa, na cor do cabelo, nos acessórios...). Madrid é urbana, urbana e com uma arquitetura linda. Porém, mesmo com essa cidade super bonita, foi dentro dos museus que ela me fez estremecer.

O Museu do Prado era por o que eu estava ansiosa. Museu do Prado é um nome que ouvi tanto, seja nos livros, na sala de aula, por bons amigos, ou por conhecidos pedantes, que parecia que na verdade ele nem existia, era só uma coisa que as pessoas gostam de citar. Mas ele está lá. Ele existe. E é imenso, daqueles que não dá pra ver tudo. Meu amigo Michael e eu traçamos um plano, pegamos o mapa do museu e fizemos uma estratégia para a visita. Só assim para aproveitar o espaço.

Do Prado se tem uma coisa que vou lembrar pra sempre vai ser As Meninas de Velázquez. Fui apresentada a essa pintura quando tinha 10 anos, quando estava na quarta série. Ele estava no meu livro de Português como exemplo de metalinguagem, fora do texto escrito. Me lembro perfeitamente daquela aula, me lembro até do local em que eu sentava na sala. Me lembro que era depois do intervalo, ela na sala do segundo andar e era a professora Silvana. Aliás, ela explicou muito bem, tão bem a ponto de até hoje usar a explicação dela quando vejo o quadro por aí. Enfim, tudo isso para dizer que ele está lá, lá no Prado. Foi lindo vê-lo pessoalmente, e poder analisar o pouco que eu sei frente a frente. A tela é grandona, como eu imaginava.




Esse quadro, na verdade, me deixou com a ideia fixa de assaltar o museu. Buscá-lo e levar para Matão. Levar para minha casa e todas as noites, antes de dormir, eu poder espiá-lo, só para ter certeza de que ele e todos os seus elementos, de fato existem. Mas, enfim, por enquanto deixa essa história pra lá.
Se do Prado eu esperava muito, do Reina Sofia eu estava indo porque todo mundo aconselha. As grandes atrações pra mim seria Dalí e Picasso. Mas, veja bem, eu não entendo muito de Surrealismo, e Picasso eu já tinha visto em um museu só dele em Barcelona. Aham, eu adoro quando eu tenho essa sensação de que já vi muitas coisas, e quando chega na hora, eu fico maluca, fico mais emocionada do que quem realmente estava esperando por aquilo.

Dalí foi mágico. Quando eu comecei a ver as suas telas, na verdade, logo na primeira, eu compreendi o surrealismo. Entendi, em um clique dentro da minha mente, que eles pintam sensações, é o subjetivismo através das tintas e das figuras.

Depois fui ver esse tal de Picasso. Gosto bastante de suas obras, principalmente porque através delas eu vejo que até mesmo os gênios estudam, aprimoram os seus trabalhos e experimentam. Ninguém nasce pintando igual Picasso, nem Picasso.

Enfim, nas obras de Picasso, no final da sala, tinha um outra sala, e eu estava sentindo que alguma coisa estava  acontecendo. E estava. Guernica estava lá. E eu que já estava a esperando, percebi que não estava esperando da forma certa.

Agora toda vez que eu me chatear nessa vida, eu vou fechar os olhos e pensar: Dane-se. Eu vi Guernica.


Eu não sou doida de estar falando assim. Essa tela está em muitos livros de Artes, é geralmente apresentada em uma imagem pequenininha e com uma nota de rodapé: Picasso, pintor cubista. A minha sorte é que tive boas aulas de Artes. Tive um professor que projetou o quadro na lousa e explicou tudo: A Guerra Civil Espanhola, o bombardeio, a luz elétrica, a tourada, o Cubismo, a condição de Picasso de que a obra deveria ser exposta quando não houvesse Guerra, e deveria ser exposta na Espanha. Pois é, destes livros para a vida real. Para os meus olhos. Guernica é uma tela-painel. Gigante. Um muro praticamente. Gostei de ver pessoalmente justamente pra ver que a coloração não é tão azul, e nem é tão cinza, como esses livros costumam discordar uns dos outros e principalmente do quadro.

Fui embora do Reina Sofia sem me entender. O museu espanhol, além de ter este acervo, tem instalações fantásticas. Me lembro que saímos de repente em uma sala com câmeras fotográficas antigas, expostas lindamente em uma sala decorada de estúdio de fotografia. Assisti excertos de Goddard e O Cão Andaluz (mais uma vez). Vi Kandinsky. Descobri mais uma dúzia de artistas. O Reina Sofia é o motivo de eu querer voltar a Madrid.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Os novos brasileiros

Os brasileiros invadem Portugal uma vez por ano. Melhor, invadem Coimbra. A invasão sempre ocorre no mês de setembro, que é quando começa o ano letivo europeu. Termina o verão, terminam as férias. Começa o frio, começam as aulas e os nossos desgostos.

É claro, agora eu estou aqui explicando a todos como funciona o nosso calendário, dando dicas de casas, ensinando o caminho para o shopping. Mas há um ano atrás, a história era diferente. E o tempo tem disso, às vezes ele passa tão rápido que eu cheguei nesse semestre sem perceber, e quando me dei conta, fui  apresentada para as pessoas que chegam aqui em casa como a moradora mais antiga. Isso não acumula funções e nem qualidades, só fica o meu susto registrado.

E já que estou aqui, com o meu quarto estabelecido e já sei de olhos fechados o caminho até o mercado, fico reparando o que esses novos brasileiros em Portugal tem em comum. A comparação é a primeira coisa. No Brasil as pessoas fazem isso, no Brasil as pessoas dizem mais bons dias, no Brasil o atum é caro, no Brasil tem coxinha. É, no Brasil. Eu percebo quando os meus colegas brasileiros estão se adaptando quando essas comparações vão terminando. Quando a vida brasileira deixa de ser o assunto principal de uma conversa. Chega uma hora em que se para de converter os preços, e o que antes era barato passa a ser cotidiano, e passa a ser caro (consequentemente). Há o momento em que se para de conferir o horário e dizer “no Brasil agora é...” . É a hora que se para de julgar o estrangeiro, e entendemos que os estrangeiros aqui somos nós.

Enquanto isso não acontece eu vou me divertindo com esse famoso jeito brasileiro. Hoje, por exemplo, estava na cozinha da minha casa almoçando quando aparecem dois cariocas e um espanhol que fala português lusitano, quer dizer, que está aprendendo. Obviamente, os brasileiros começaram a comparar o transporte europeu com o brasileiro. E o metrô foi o principal assunto. O gajo espanhol então perguntou o porquê do metrô no Brasil ser tão problemático. O primeiro carioca diz “porque os políticos pegam as verbas e embolsam”. O espanhol franziu a testa e fez sinal que não entendeu o que ele disse. O segundo carioca foi explicar, de um jeito muito melhor: levantou da cadeira e disse que eles pegavam o dinheiro do metro e colocavam no bolso, isso foi acompanhado com o gesto de colocar as mãos nos bolsos rapidamente. Mas é claro que a ilustração fez com que o menino entendesse menos ainda.

Os brasileiros às vezes esquecem que nem todos são brasileiros, que nem todos entendem do que estamos falando, e como estamos falando.

Mas esse episódio foi um bocado engraçado. E só agora posso observá-los.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

The highway is for gamblers, better use your sense


O relógio aqui no meu note já me diz que hoje é dia 04 de setembro. Esse dia que parecia tão distante, enfim chegou. Na verdade, esse post é o resultado de uma pausa da arrumação da mala. Na verdade era só para por mais uma música da Gal no Media Player, mas eu sou muito boa em enrolar.

Além de ser boa em enrolar eu também sou boa em sentir. Cheguei a conclusão que antes de Coimbra eu nunca tinha sentido, nunca tinha de fato conjugado esse verbo em mim mesma. Antes eu tinha crises. Agora, eu estou nessa de pensar. E há um ano atrás, ir para outra cidade não me fazia preocupada. Eu ia lá ver como era. Agora, eu pensei, eu senti. E essa despedida vai ser um pouco mais dolorosa.

Obviamente, estou escrevendo como se fosse para a Faixa de Gaza, e nem é. Vou para Coimbra! O paraíso dos universitários. Mas, é claro, eu só vou me lembrar disso quando chegar lá.

Eu estava pensando o que é tão diferente em estar aqui, em Matão, de estar em Coimbra. Acontece que aqui em casa, eu fico toda espalhada, tem um pouco de mim na cozinha, na sala, no meu quarto ou no quintal com as minhas cachorras. Aqui nem uma barata eu mato. Em Coimbra eu tenho que me unir. Deixar pra lá qualquer saber amargo e ir viver. 

Por outro lado, alguma coisa está me dizendo que está na hora de voltar, de ir abrir aquela janela e deixar o meu quarto respirar a Sé Velha. O pó deve ter dominado tudo por lá. De repente, uma ponta de mim começa a dizer que tenho mais que fazer no outro lado desses mares que eu tanto ando navegando. 

Desde quando eu comecei a ouvir  Bob Dylan, eu entendi o significado da frase que dá título a este texto sem vergonha. Eu tenho o prazer de fazer parte do grupo que pode entender esse sabor de instabilidade estável.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

domingo, 19 de agosto de 2012

Em casa


Nas últimas semanas eu cansei de dizer a frase “em agosto vou para o Brasil”. Corrijo a frase, uma vez que deveria ter dito “em agosto vou para Matão”. Matão. Esse é o objetivo da viagem. Em Matão não tem praia, não tem shopping, não tem livraria e nem um café aconchegante tem. Mas tem a minha casa. Tem os meus pais e todas essas pessoas que os olhos brilham quando eu entrego uma mísera lembrança dos lugares por quais passei.

Aqui também tem os meus amigos: os que cresceram comigo, as amigas da adolescência - que me ligam dizendo que querem saber de tu-di-nho - e os da faculdade, daqueles que fazem o ônibus atrasar caso eu ainda não esteja nele.

Nesses dias eu tive churrasco e almoços em família. Na minha casa, na casa da minha avó ou no sítio. Reuniões com amigos, pizza com os amigos dos meus pais, visitas aos parentes que eu nem me lembrava. E por fim posso dizer que em Matão, quem diria, estou conhecendo pessoas novas.

Foi estranho sair por aqui pela noite e saber que não teria o NL, caso queríamos estender a diversão. Foi estranho escovar os dentes para dormir em uma terça-feira, sabendo que os meus amigos estavam indo para o Bigorna, e ao invés de ouvir que “mão direita é penalti” eu ouço os passos rápidos das minhas cachorras andando pelo quintal.

Matão, agora me lembrei, é tranquilidade. Aqui tenho tempo de pensar em tudo. E se eu ficar muito tempo sozinha no meu quarto, não vou me sentir angustiada e limitada pelo espaço. Ao contrário, vou me sentir segura. Às vezes, em tempos de mudanças, tudo o que precisamos, é voltar para casa. 


quinta-feira, 19 de julho de 2012

"You say it's your birthday"*


Então, 18 de julho! Gosto bastante de fazer aniversário, ao contrário de muitas pessoas que gostam de passar despercebidas, ou que acham que fazer aniversário é só ficar mais velhas, eu penso que essa data é a mais esperada. Não vou ser hipócrita, adoro responder os recados de Facebook, adoro quando o celular começa a tocar, adoro os abraços e os presentinhos.

E a cada 18 de julho eu gosto de lembrar do 18 de julho passado. Ontem eu me lembrei que, no ano passado, passei a semana em São Paulo . Meu aniversário foi na terça, e no sábado fui ao Comedians com a minha irmã e o meu cunhado,  assistimos o stand up de Murilo Gun. Fui infinitas vezes na Avenida Paulista, assistia FRIENDS pela manhã e tinha total liberdade para preparar o jantar na casa da minha irmã. Lembrei também que na segunda feira, dia 17 de julho, fui ao cinema com a minha tia, para assistir pela primeira vez o filme que está hoje entre os meus favoritos: Meia Noite em Paris. Lembro que estava lendo Cinzas do Norte, de Miltom Hatoum. Recomendo esse livro a todo mundo. E me lembro que quando eu terminei de lê-lo, me senti um pouco mal, um pouco sem destino. É bem verdade que eu não gosto de terminar um livro que estou gostando muito da leitura, sempre fico um pouco triste quando o fecho e coloco o marcador de página sobre ele, como se fosse uma marcação de que todas aquelas vidas que estavam nas suas páginas, morreram para mim. Não faço mais parte da história dele. Porém, naquela noite me senti meio estranha.

No dia seguinte, abri o meu email e estava lá que tinha sido classificada para o intercâmbio “cá de Portugal”. Lembro que liguei para minha irmã, e ela já chorou por mim. Isso ficou em segredo na casa dela. Até no domingo eu ir embora (antecipadamente) para contar aos meus pais. A partir daí, todo mundo já sabe da história.

E no 18 de Julho desse ano, não preciso dizer que foi o aniversário mais diferente até agora. Pra começar teve uma ligação da minha mãe de 2 minutos, ao contrário daqueles churrascos ou jantares que ela organiza tão bem. Isso já é muito estranho. Recebi também mais duas ligações made in Brazil, da minha tia e de uma amiga. Fiquei com aquela vontade de abraçá-las, a ponto de enquanto elas falavam, eu sentia o cheirinho delas. O que a saudade não faz...

Porém, esse aniversário lusitano foi muito divertido. Acordei na hora que eu quis, coloquei um vestido novo e saí por aí com boas companhias. Acabamos no Mondego, com vinhos, fritas e tremoços (o amendoim daqui). Depois, mais um tempo na Sé Velha, para comer o bolo que eu por acaso preparei no dia 17 de julho. Ele não ficou bonito, mas se é para usar uma citação de família, vai lá: “Feioso, mas gostoso!”. Também ganhei presentinhos:  ganhei um Elvis, uma Florbela Espanca e a obra que conta a maior aventura da Literatura: Odisseia. O Juca foi muito bom na metáfora com o nosso intercâmbio.

Escrevi tudo isso para dizer que fazer aniversário é muito mais do que aumentar um número na nossa conta, é um tempo que eu posso aproveitar como todos os dias deveriam ser. Mas, agora, eu estou pensando que isso acontece porque faço aniversário em julho, isto é, férias. Ah, dane-se, o que importa então é a minha sorte de canceriana. 



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Cara Literatura,


Enfim a última nota saiu. Encerrei o meu segundo semestre acadêmico melhor do que o primeiro. O que me deixa muito feliz. Acho que vou ter que admitir aquela história de adaptação que tanto falam por aqui. A minha última nota foi de Literatura Portuguesa. Após a leitura de um livro com características medievais e de ter estudado (decorado) Gil Vicente, enfim consegui a minha nota. Eu sei, eu sei, tenho que ficar feliz com a Sintaxe, porque é isso que não sei, que tenho dificuldades. Mas, chega uma altura na vida, que você já não se importa em ser ruim em uma coisa, mas perder o controle de algo que você tinha é mexer e virar do avesso o seu orgulho. Mas  você está fazendo as pazes comigo, ou eu estou fazendo com ela. Essa história de fazer mudanças radicais sempre faz um lado sair perdendo.

Eu vim pra cá, e meus pais não ficaram bravos comigo, ao contrário, me deram o maior apoio. Não tinha nenhum namorado pra fazer uma briga catostrófica. Não fiquei aqui depressiva e fazendo conta nos dedos pra ver quantos segundos faltam para 2013. Não engordei demasiadamente. É claro, alguém tinha que sair prejudicada, e justamente foi  você, Literatura.

Deixo aqui meu pedido de desculpas à você, que tantas vezes me salvou do tédio e me trouxe as melhores histórias que eu sei. Desculpas por no primeiro semestre te achar mesquinha e nesse ter faltado de algumas aulas, só por achar que você não merecia a minha presença. Vou me redimir a você, e a prova disso foi a compra de uns livros ontem. Prometo lê-los essa semana ainda, e depois organizar-te-ei  na minha estante. No semestre que vem, serás meu foco. E nunca mais brigarei com você, a ponto de te querer fora da minha vida.

Minha sinceras desculpas,
de sua admiradora entre tantos outros,
Rafaelle M. M.

sábado, 19 de maio de 2012

Para minha Mãe


A minha mãe disse que eu parecia triste. Mãe, não se engane e não se esqueça.

Não se esqueça de que eu me emociono perdidamente com a melancolia, mas só me permito àquela melancolia em que posso fechar o livro, dar STOP, ou desviar o olhar da imagem. Não se esqueça de que eu sei que a tristeza não é um sentimento digno e que não admito entregar-me a ela.

Não se esqueça de que não nasci para ser foliã, ao contrário, gosto do silêncio, ou gosto do meu barulho; aliás, gosto do barulho que eu sei de onde vem – e por isso me agrada.

Não se esqueça do som da minha gargalhada – que agora outras pessoas também a conhece – porque não termino um dia sequer sem ouvi-la.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A tal da Queima


Aqui em Coimbra na semana passada teve a tão esperada Queima das Fitas. É mais uma das tradições (a palavra mais usada na Universidade, tanto para o bem como para o mal: tradição) a qual marca a despedida dos estudantes. Então a Queima tem esse sabor de saudade antecipada de Coimbra, das noites, dos amigos, da liberdade.... dos tempos de estudantes universitários, isto é, aqueles anos em que nos julgam intelectuais e que na verdade só estamos reclamando da aula de amanhã às 9:00 da manhã.

Pois bem, no meio de tantas saudades e tradições é de se esperar algo triste, com lágrimas. Não nos enganemos, há sempre o Carpe Diem. Estou dizendo que a Queima é uma semana que tem festas, uma grande festa todos os dias, pra lá do Mondego. Tem bandas internacionais e tudo. É uma despedida para nunca mais esquecer.

Creio que essa minha primeira Queima não vai ser a minha última. Porém, acabei vivendo a semana passada com um pouco de saudade nos olhos, senti saudades por e pelos os meus amigos que logo menos estarão me deixando e retornando ao Brasil. Mas até lá há alguns meses para juntarmos histórias por aqui.

Aliás, tenho que esclarecer que na minha Queima eu assisti o ritual da serenata (o que marca o início da semana) do meu quarto, e adorei essa festa porque nas suas proximidades estavam vendendo algodão doce. Passei a semana de festas no meu quarto, indo às livrarias pela região, assistindo seriados, tomando cafés e tendo boas conversas. Não desci para a noite, fiquei por aqui vivendo a tranquilidade. Era para eu ter posto tudo em ordem, ao contrário disso, nem o aspirador no meu quarto passei.  Agitação por esses dias não eram bem vindas.

Talvez ano que vem eu esteja mais animada para essas festividades, mas eu já posso dizer que acho difícil. No fim eu continuo sendo aquela pessoa que se cansa fácil, e que precisa saber a hora que a diversão exacerbada acaba, para voltar para a casa, e para tudo que me é familiar.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Do meu quarto

O meu quarto novo é de frente para a Sé Velha, tem uma sacada e é no segundo andar. O problema é que é neste espaço que os bares de Coimbra se concentram. A casa em que eu moro já fica em cima de um deles. Isso quer dizer que durmo todos os dias com muitas vozes na minha janela, assim como música e risadas. Porém, isso não atrapalha meu sono, durmo tranquilamente. Até mesmo porque aqui os bares têm horário para fechar: às 4h:00.

O estranho é que durmo com o barulho e mais ou menos lá pelas 4h:00 eu acordo, com o silêncio. E nessa noite acordei com o silêncio e com o carro que passa lavando a Sé Velha, e que sempre me deixa na dúvida se é chuva, ou não.  E nessa noite acordei com o silêncio e perdi o sono por causa da serenidade do som de água no chão.

Aqui em Coimbra tudo tende a ficar ao contrário. 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Trapaceiros

Aqui em Coimbra é verdade que vivemos conhecendo pessoas novas, lugares novos e vivendo experiências que entre o trágico e o incrível eu classifico todas de divertidas. Porém, não tem jeito, os assuntos que mais estão na nossa mente são saudade e o tempo.

E, como me disse uma vez Hemingway,  durante o dia é muito fácil levar uma vida feliz, mas é durante a noite que a verdade aparece (isso não é uma citação, é apenas como eu lembro). Pois é, tem dias que passamos muito bem e durante a noite eu só queria estar em casa. Um amigo me disse que é normal sentir saudades e que todos que estão aqui sentem a mesma coisa. Peço desculpas, eu sinto mais. Não me culpem, culpem aqueles que conviviam comigo.

Embora na semana passada eu tenha sentido aquela saudade de casa, acho que a cada dia que passa estou sabendo lhe dar com ela melhor. Saber lhe dar com a saudade pra mim é voltar a fazer o que eu fazia em Matão, sem aquela melancolia. Há alguns dias voltei a escrever no meu caderno de capa azul. Tinha-o abandonado, nunca mais o tinha aberto e na mudança de quarto (essa mudança é assunto de um outro post) senti uma vontade imensa de escrever nele. Como nos velhos tempos. E lê-lo! Claro! Ativar a memória sobre fatos e pessoas que não vivo e convivo há algum tempo, mas que sempre estão comigo. E então sentei e escrevi. Escrever em um diário é melhor que terapia, escrevemos sem culpas e despejamos tudo o que sentimos e no fim me sinto livre das minhas angústias, fecho o caderno e grande parte delas ficam ali.

Voltei a querer ficar em silêncio para uma leitura, para a leitura daquele livro muito importante para a Literatura, mas que nenhum professor tenha pedido.  E lembrei que o melhor lugar para ler é no tapete.

Já falei isso aqui, mas gosto muito quando sinto que estou mantendo a minha essência.

Eu sei que a saudade vai permear duramente um momento e outro, enquanto que no resto do tempo eu convivo com ela. A verdade é que às vezes desmentir a despedida é muito difícil. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um bom filho sempre retorna a casa.

Essa é a frase que define todo retorno às aulas, e nesse semestre então, nem se fala.  Eu gosto de me iludir, por isso chamo aquela uma semana sem aulas de férias.  Porque foi o tempo de ficar em casa e organizar os livros que iria ler, e as aulas começaram.

Peço desculpas aos meus amigos de cá, porque eu fui bem chata na semana passada. Eu sou muito boa em reclamar, e quando eu conferi o meu horário e vi que tenho aula de manhã em 4 (QUATRO) dias dos 5 que tenho aula, e que saio da aula na sexta feira às 20:00, ah, arrasei em reclamar. Mas, conforme as aulas foram acontecendo eu fui me acostumando. E no fim, a aula de sexta-feira que termina às 20:00 foi a melhor da semana.

Faço seis disciplinas, três de Literatura (Literatura Portuguesa 3, Estudos Pessoanos - isto é, dá-lhe Fernando Pessoa - e Análise e Crítica Literária) uma de educação, faço o Inglês II e uma de Linguística. Não basta ser de linguística (o meu carma, a minha matemática da Letras), tem que ser Sintaxe e tem que ser às 9:00. Tem coisas na vida que é melhor não questionar, vamos aceitar e cumprir o compromisso.

O fato é que estou animada com esse retorno, agora na segunda semana já vejo a rotina se desenhando,  tudo vai entrando nos eixos. Gosto bastante das “cadeiras” de literatura. Análise e Crítica é com uma professora que já a conhecia do semestre passado. Estudos Pessoanos  é divertido (dependendo do dia), eu gosto muitos das aulas em que o professor leva os textos e as analisamos durante a aula, a propósito deixo aqui um trecho de um poema visto hoje em sala de aula:

“Sou um evadido
Logo que nasci
Fecharam-se em mim,
Ah, mas eu fugi.

(...)

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer."

E a aula de Literatura Portuguesa 3 diz exatamente sobre aquela literatura do colégio. Seria chato, mas é inevitável, posso ter estudado Gil Vicente um milhão de vezes, porém, como todo conhecimento, sempre haverá algo para se acrescentar, ainda mais sobre Gil Vicente numa faculdade portuguesa. Sem dizer que me simpatizei com o professor, e hoje mesmo ele disse “peço desculpas por me estender em assuntos que não são de grande importância para o conteúdo, acontece que apaixono-me”.  Sim, essa declaração foi para um texto teórico. Mas tá valendo, ponto pra ele .

Na verdade tudo isso é para dizer que há duas semanas eu estava querendo que a FLUC  pegasse fogo e junto a ela explodisse os nossos testes e os responsáveis por eles (cof, cof). Mas agora, já estou a amando, mesmo com suas carteiras velhas, sua tradição que mais complica do que resolve e seus corredores feitos para nos perder. Enfim, eu não tenho vergonha na cara e amo quem me esnoba.


Aos meus amigos da Unesp, desejo um ótimo retorno às aulas. Sei que a Unesp judia todo final de semestre, mas depois nos dá esses três meses intermináveis de férias. Ela faz isso só para voltarmos morrendo de saudades e para esquecermos de seus defeitos. Quanta sabedoria.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Enquanto o semestre não começa...

Estou um tempo sem escrever aqui, mas não sem escrever. Peço desculpas, porque eu tenho pra mim que os poucos leitores deste blog são os mais afoitos por informações sobre  o que faço por aqui. Aviso-os que tive um mês de janeiro doido que eu jurava que iria se arrastar, mas, que nada, passou tão rápido e posso sentir que levará fevereiro junto com ele.

Nesse mês de janeiro fiz algumas provas. Fiz provas esperando que fossem simples, mas foram difíceis, porém fiz aquelas que esperava dificuldade absurda, e no fim fiz sem rascunhos.

Tirando esses exames, a vida continua. Pois é, nesse mês de estudo retornei a Porto e conheci Aveiro. Porto é uma cidade magnificamente linda, é só sentar e olhar. Esse é o passeio. Aveiro tem o título de “Veneza portuguesa”. Injusto. Aveiro é Aveiro. Veneza é Veneza. Odeio esses títulos. Porém, o charme dessas viagens foram as minhas companhias. Amigos? NÃO! Foi a minha família. Ah, olha só como esse mês foi ousado. Meus tios de São Paulo (mas nem por isso distantes, ao contrário, são daqueles familiares que a distância só serve para unir a família cada vez mais) vieram pra cá e eu tive o prazer de acompanhá-los. Tenho saudades desses dias.

Por falar em saudades, já que não tive aulas me sobrou tempo para sentir saudades. Senti daquelas saudades que parece que o peito vai estourar e a saudade vai escorrer pelo chão, não sei explicar isso muito bem. Teve dias que eu acordei, abria os olhos e pensava: “falta muito pra agosto?”.

Mas agora voltei a ficar tranqüila. Após a minha última prova comecei a missão mais importante desses dias de “férias”: arrumar meu quarto. Sim, eu sou bagunçada. Não sou de tirar uma roupa e guardá-la, e se caso guardo é certeza que não vou fechar a gaveta. Meu quarto só fazia lembrar a minha mãe “parece que passou uma guerra por aqui”. Caos. Estava planejando em arrumá-lo aos poucos, mas acontece que um amigo passou por aqui, e decidiu me ajudar nessa missão. É fato que ele limpou tudo, enquanto eu me decidia   se jogava folders de teatro ou entradas do cinema no lixo. Agora está tudo arrumadinho (ainda), minha mesa está me dando orgulho.

Outra coisa que fez a minha felicidade nesses dias foram as cartas recebi. Queridos amigos do Brasil que me escreveram e eu fiquei aqui, lendo e relendo cada correspondência. Achei ótimo! E devo dizer que email é bem eficiente, mas nada supera a emoção de abrir uma carta. Aviso-os  que estou respondendo todos.  Escrever uma carta também é um ritual.


Agora eu tenho uma semana para continuar a me reorganizar. Dia 13 voltam às aulas. Até lá vou lendo uns livros por aqui e vou torcer para que esse clima de chuva que invadiu o final de semana vá embora, porque quero ter uma boa leitura no Mondego. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Hoje: mais um dia?

Pois é, desde domingo meus dias estão fora do comum, sem se encaixar em nada.

Domingo voltei da minha primeira viagem por aqui. Fui para Barcelona com uma mochila e um amigo. Voltei de lá cansada como nunca, porém com a memória de ótimos três dias. Barcelona, eu te amo.

Depois que voltei estudei freneticamente e melancolicamente para uma prova. Pois, fui lá e a fiz. Era a chave que iria ativar a minha cabeça de volta ao mundo real, era para ser - mas não foi.

Não foi porque hoje, um dia após a prova, tive o dia mais maluco desses meses coimbrenses. Meus tios vieram pra cá, chegaram exatamente hoje. Estava louca para esse dia, passei muito tempo planejando o que fazer durante esse período. Sinto que por mais que eu conte os meus dias e mostre fotos aos meus familiares, ainda falta alguma coisa. Sim, falta eles viverem isso aqui. E agora com essa visita tudo parece confirmado, não há mais dúvidas. Foi surreal vê-los andando pelos corredores aqui de casa, dois mundos que pareciam tão separados na minha cabeça de repente se mesclaram. Momento dadaísta da minha vida.

Fora essa loucura, o meu dia começou com a ida a estação de comboios. Para buscar meus tios? Não, para levar um amigo. Aiaiai, essas despedidas me perseguem, quando não sou eu deixando os outros, os outros decidem me deixar.

Agora estou a pensar nisso tudo: ganhei uma chegada e uma partida. É o famoso equilíbrio? Não, não é. Equilíbrio não nos emociona e hoje estou a flor da pele.  Dia estranho que nem me deixa defini-lo.  É esperar para ver.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Feliz Natal, Feliz Ano Novo...

A última semana de todos os anos foi durante toda a minha vida a minha semana preferida do ano. Quando eu era criança, é claro, existiam os presentes que se acumulavam a cada chegada de um familiar distante. Agora que não desejo mais um cômodo da casa da Barbie (seja porque não brinco mais de boneca, ou porque já completei toda a casa), o que me deixa ansiosa é reunir todas aquelas pessoas que gosto muito, é ver o pisca-pisca brilhando na noite de 24 de dezembro e a comida, hum, como amo aquelas carnes de Natal e a lentinha do Reveillon. Então, eu, que vivo intensamente essa semana, neste ano enfrentei um Natal quase sem ceia e um réveillon sem vestir branco.

O Natal não foi um Natal, foi uma festa, um jantar que terminou num bar tocando London Calling. O Ano Novo teve fogos, vinho do Porto, kebab e depois disso,é claro, é hora de voltar para casa. Meu final de ano foi salvo (ufa!) e nunca irei me esquecer dessas “festas”.

Porém, se você me conhece do Brasil, sabe desse meu lado cético: promessa pra 2012? Ah, vai catar coquinho. Eu sou aquela que não vê um ciclo, mas uma reta, muda-se apenas o calendário... Vai nessa, Rafaelle.

Agora que eu comemorei tudo de uma forma alternativa as dúvidas enfim chegaram até mim. Então, isso tudo o que eu estou fazendo está certo?  Vou me arrepender?  Há como fazer melhor? Nessa vida louca qualquer mudança já está me fazendo derrubar o Woody Allen do divã para ocupar o espaço.

Daqui vejo coisas que poderia fazer diferente para não me aborrecer depois. Mas é aquele famoso risco. De vez em quando ele vale a pena.

Então, desejo a todos os melhores riscos para 2012. Se eu já estou fazendo reflexões de passagem de ano, o  que mais posso esperar?