Os brasileiros invadem Portugal uma vez por ano. Melhor,
invadem Coimbra. A invasão sempre ocorre no mês de setembro, que é quando
começa o ano letivo europeu. Termina o verão, terminam as férias. Começa o
frio, começam as aulas e os nossos desgostos.
É claro, agora eu estou aqui explicando a todos como
funciona o nosso calendário, dando dicas de casas, ensinando o caminho para o
shopping. Mas há um ano atrás, a história era diferente. E o tempo tem disso,
às vezes ele passa tão rápido que eu cheguei nesse semestre sem perceber, e
quando me dei conta, fui apresentada para as pessoas que chegam aqui em
casa como a moradora mais antiga. Isso não acumula funções e nem qualidades,
só fica o meu susto registrado.
E já que estou aqui, com o meu quarto estabelecido e já sei de olhos fechados o caminho até o mercado, fico reparando o que esses novos brasileiros em Portugal
tem em comum. A comparação é a primeira coisa. No Brasil as pessoas fazem isso,
no Brasil as pessoas dizem mais bons dias, no Brasil o atum é caro, no Brasil tem
coxinha. É, no Brasil. Eu percebo quando os meus colegas brasileiros estão se
adaptando quando essas comparações vão terminando. Quando a vida brasileira
deixa de ser o assunto principal de uma conversa. Chega uma hora em que se para
de converter os preços, e o que antes era barato passa a ser cotidiano, e passa
a ser caro (consequentemente). Há o momento em que se para de conferir o
horário e dizer “no Brasil agora é...” . É a hora que se para de julgar o
estrangeiro, e entendemos que os estrangeiros aqui somos nós.
Enquanto isso não acontece eu vou me divertindo com esse
famoso jeito brasileiro. Hoje, por exemplo, estava na cozinha da minha casa
almoçando quando aparecem dois cariocas e um espanhol que fala português
lusitano, quer dizer, que está aprendendo. Obviamente, os brasileiros começaram
a comparar o transporte europeu com o brasileiro. E o metrô foi o principal
assunto. O gajo espanhol então perguntou o porquê do metrô no Brasil ser tão problemático. O primeiro carioca diz “porque os políticos pegam as verbas e
embolsam”. O espanhol franziu a testa e fez sinal que não entendeu o que ele
disse. O segundo carioca foi explicar, de um jeito muito melhor: levantou da
cadeira e disse que eles pegavam o dinheiro do metro e colocavam no bolso, isso
foi acompanhado com o gesto de colocar as mãos nos bolsos rapidamente. Mas é
claro que a ilustração fez com que o menino entendesse menos ainda.
Os brasileiros às vezes esquecem que nem todos são
brasileiros, que nem todos entendem do que estamos falando, e como estamos
falando.
Mas esse episódio foi um bocado engraçado. E só agora posso
observá-los.
Nenhum comentário:
Postar um comentário