quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Os novos brasileiros

Os brasileiros invadem Portugal uma vez por ano. Melhor, invadem Coimbra. A invasão sempre ocorre no mês de setembro, que é quando começa o ano letivo europeu. Termina o verão, terminam as férias. Começa o frio, começam as aulas e os nossos desgostos.

É claro, agora eu estou aqui explicando a todos como funciona o nosso calendário, dando dicas de casas, ensinando o caminho para o shopping. Mas há um ano atrás, a história era diferente. E o tempo tem disso, às vezes ele passa tão rápido que eu cheguei nesse semestre sem perceber, e quando me dei conta, fui  apresentada para as pessoas que chegam aqui em casa como a moradora mais antiga. Isso não acumula funções e nem qualidades, só fica o meu susto registrado.

E já que estou aqui, com o meu quarto estabelecido e já sei de olhos fechados o caminho até o mercado, fico reparando o que esses novos brasileiros em Portugal tem em comum. A comparação é a primeira coisa. No Brasil as pessoas fazem isso, no Brasil as pessoas dizem mais bons dias, no Brasil o atum é caro, no Brasil tem coxinha. É, no Brasil. Eu percebo quando os meus colegas brasileiros estão se adaptando quando essas comparações vão terminando. Quando a vida brasileira deixa de ser o assunto principal de uma conversa. Chega uma hora em que se para de converter os preços, e o que antes era barato passa a ser cotidiano, e passa a ser caro (consequentemente). Há o momento em que se para de conferir o horário e dizer “no Brasil agora é...” . É a hora que se para de julgar o estrangeiro, e entendemos que os estrangeiros aqui somos nós.

Enquanto isso não acontece eu vou me divertindo com esse famoso jeito brasileiro. Hoje, por exemplo, estava na cozinha da minha casa almoçando quando aparecem dois cariocas e um espanhol que fala português lusitano, quer dizer, que está aprendendo. Obviamente, os brasileiros começaram a comparar o transporte europeu com o brasileiro. E o metrô foi o principal assunto. O gajo espanhol então perguntou o porquê do metrô no Brasil ser tão problemático. O primeiro carioca diz “porque os políticos pegam as verbas e embolsam”. O espanhol franziu a testa e fez sinal que não entendeu o que ele disse. O segundo carioca foi explicar, de um jeito muito melhor: levantou da cadeira e disse que eles pegavam o dinheiro do metro e colocavam no bolso, isso foi acompanhado com o gesto de colocar as mãos nos bolsos rapidamente. Mas é claro que a ilustração fez com que o menino entendesse menos ainda.

Os brasileiros às vezes esquecem que nem todos são brasileiros, que nem todos entendem do que estamos falando, e como estamos falando.

Mas esse episódio foi um bocado engraçado. E só agora posso observá-los.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

The highway is for gamblers, better use your sense


O relógio aqui no meu note já me diz que hoje é dia 04 de setembro. Esse dia que parecia tão distante, enfim chegou. Na verdade, esse post é o resultado de uma pausa da arrumação da mala. Na verdade era só para por mais uma música da Gal no Media Player, mas eu sou muito boa em enrolar.

Além de ser boa em enrolar eu também sou boa em sentir. Cheguei a conclusão que antes de Coimbra eu nunca tinha sentido, nunca tinha de fato conjugado esse verbo em mim mesma. Antes eu tinha crises. Agora, eu estou nessa de pensar. E há um ano atrás, ir para outra cidade não me fazia preocupada. Eu ia lá ver como era. Agora, eu pensei, eu senti. E essa despedida vai ser um pouco mais dolorosa.

Obviamente, estou escrevendo como se fosse para a Faixa de Gaza, e nem é. Vou para Coimbra! O paraíso dos universitários. Mas, é claro, eu só vou me lembrar disso quando chegar lá.

Eu estava pensando o que é tão diferente em estar aqui, em Matão, de estar em Coimbra. Acontece que aqui em casa, eu fico toda espalhada, tem um pouco de mim na cozinha, na sala, no meu quarto ou no quintal com as minhas cachorras. Aqui nem uma barata eu mato. Em Coimbra eu tenho que me unir. Deixar pra lá qualquer saber amargo e ir viver. 

Por outro lado, alguma coisa está me dizendo que está na hora de voltar, de ir abrir aquela janela e deixar o meu quarto respirar a Sé Velha. O pó deve ter dominado tudo por lá. De repente, uma ponta de mim começa a dizer que tenho mais que fazer no outro lado desses mares que eu tanto ando navegando. 

Desde quando eu comecei a ouvir  Bob Dylan, eu entendi o significado da frase que dá título a este texto sem vergonha. Eu tenho o prazer de fazer parte do grupo que pode entender esse sabor de instabilidade estável.