quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Escritos


Uma vez escrevi aqui para dizer que a escrita muitas vezes me serve para organizar as ideias. E agora é um momento para isso.

Porque como disse para uns amigos que andei escrevendo, tive depois dos exames um tempo livre. Um tempo longe da Universidade. Utilizei o período para ler, ver uns filmes, ouvir músicas diferentes e todas essas coisas. Às vezes vem a ser arte da mais alta qualidade, mas também pode ser de uma qualidade nem tão boa e pior do que a arte nem tão boa, é quando ela é duvidosa.

Eu acho muito engraçado e também confuso como a Arte é classificada e, logo, consumida. Na verdade eu tenho uma certa dúvida se  tudo o que lemos o que lemos, ouvimos o que ouvimos e assistimos o que assistimos, se realmente se convertem em valores, e se isso acontece para todos.

Acho que é uma noção absoluta de que a Arte nos faz pensar em quem somos e como levamos a vida. Isso é absoluto sim, o que não é absoluto é o pensar, por intermédio das artes, na sociedade. Pois é, acho que falta isso às pessoas, de transferirem para o mundo o que aprendem além de interiorizar sentimentos e sensações. Mas passar a pensar em tudo, ou melhor, em um pouco mais.

Digo isso obviamente porque estou passando um tempo fora do meu país, e notar as diferenças,tanto do cotidiano como algo mais político-social torna-se inevitável, e portanto penso mais sobre o Brasil, mais sobre o Brasil em relação ao mundo, essas coisas. E mais do que isso, sempre usei como bengala do entendimento a cultura. E desta vez acho que estou mais próxima desse tipo de obras que fazem esse tipo reflexão.

Pois, quando eu tinha uns 15 anos eu ouvia artistas novos e lia os clássicos. Hoje ando ouvindo artistas mais velhos e lendo escritores novos.

Finalizei a leitura de O Filho de Mil Homens, livro de Valter Hugo Mãe que me cativou desde o início pelo título. A linguagem, um pouco de Saramago, nos remete a uma espécie de espaço geográfico relativamente pequeno, no qual as personagens tem as suas vidas e, portanto, seus problemas. Como em toda sociedade, as histórias vão se entrelaçando e os conflitos vão crescendo. Acontece que o narrador, que suaviza as histórias e nos mostra como pensa e como vive cada personagem, nos faz ver que no fim todos têm os seus motivos. E fiquei triste pelo o sofrimento do pobre rapaz que é homossexual, e que geralmente é surrado pelos outros moradores. Tenho mais pena ainda de sua mãe, que apesar dos conselhos de todos, não consegue odiar o filho e sofre em dobro.  Entendo a necessidade de um homem sozinho de ter uma família, e como uma mulher simples espera constantemente pelo o amor, nem que seja um amor piedoso do “homem maricas”. Durante essa leitura ficou bem clara aquela história de que cada um tem seus motivos e como o preconceito pode ser uma coisa natural de quem não tem paciência de pensar no outro, ou, nos outros. Portanto, a crítica mal fundamentada e insensível é a única arma dessas pessoas.

Como eu disse, a história acontece em um espaço pequeno, mas são temas universais. Podemos crescer o espaço o tanto que for, e as histórias vão se repetir.

Fazer essa leitura um pouco mais humanizada não me veio de um estalo. Não, na verdade eu acho que uma ideia puxa a outra e quando percebemos um tema, ou quando passamos a pensar mais nele, parece que tudo o que vemos nos remete a mesma coisa. Digo porque passei a pensar nisso tudo mais claramente quando vi há um tempo duas entrevistas do Caetano, uma mais recente e a outra mais antiguinha, nas quais ele praticamente repete o discurso de que a vida é complicada e cabe a nós saber lidar com ela (afinal, desde que o samba é samba, é assim). E é isso, Caetano, a vida é iminentemente complicada. Não adianta brigar contra isso. Ao contrário, é melhor abrirmos os olhos para os problemas e ao invés de nos refugiarmos somente neles é bom pensá-los. Acho que, e isso eu sempre repito a bons amigos, a nossa existência não pode se limitar a nós mesmos, considerando que muitas vezes os nossos problemas são de ordens mesquinhas. Se pensarmos no mundo até adequamos as nossas sensações a estes quadros universais: preconceito, a pobreza, a nossa política, o descaso com ela e etc.

Andei pensando, juntamente com isso, que como a Arte tem esse poder de nos dizer sobre tantos assuntos e por isso nos fazer refletir sobre problemas humanitários, acho que essas reflexões faz com que busquemos mais informações. E neste papel da Arte eu também acredito: o de parar de segmentar o conhecimento. Ora, eu estudo Literatura, mas não é por isso que só tenho que entender dos gêneros literários e das características técnicas de cada escola. Tenho que pesquisar a história, o contexto...

Vou parar por aqui. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Janeiro de 2013


Devo começar a escrever aqui me desculpando pelo o tanto tempo que estou sem escrever. Isso não quer dizer que não tive tempo, que nada de interessante aconteceu ou que me faltou vontade. Mas para mim, dentro da minha cabeça, o último texto que escrevi foi mais ou menos há duas semanas, mas na verdade foi há meses. Alguma vez eu já disse que o tempo em Coimbra corre diferente? Pois.

E este semestre, seguindo o calendário acadêmico, está se encerrando e eu nem o vi passar. Digo isso porque às vezes sinto tanta saudade dos meus amigos que já se foram, que me parece que eles partiram de manhã, e agora, mais uma vez, o processo de despedida está reaberto. 

Porém, no meio disso tudo ficam registrados na minha memória (memória é um lugar muito mais resistente do que um pen drive ou uma HD externa) grandes momentos. Entre eles essa história de readaptação, de ter que conhecer novas pessoas, viver na mesma casa, mas com pessoas diferentes. Das coisas mais marcantes do semestre ficam: os jantares aqui na nossa cozinha, o camping, o dialeto cabido-bigornês, Londres, Guernica,  a pancada do meu joelho na mesa de centro do hostel de Oslo, as oito disciplinas que loucamente resolvi me matricular, as fotografias, a "aula" de medicina legal...

Neste semestre também fiquei mais tempo dentro do meu quarto, convivendo exatamente comigo. A loucura de Coimbra, lá em baixo na Sé Velha, e eu aqui. Passar um tempo sozinha quer dizer passar um tempo com as palavras, com os desenhos, com as imagens e claro, com o futuro, com os planos.

E entre todos esses fenômenos de um intercâmbio, e entre todas as despedidas que passei e ainda vou passar, estou iniciando o meu último semestre. O que é algo tão sinistro quanto o primeiro semestre.

E só me dei conta disso exatamente quando acordei no dia 1 de janeiro, e mais, ainda não fui a Itália e nem a Paris. Coimbra, desacelere esse relógio.