segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Pelas cores


Essas fotos foram tiradas no anoitecer do dia 5 de agosto, que por acaso foi o meu último dia em Coimbra. Gosto bastante das cores do céu. De seu azul  no dia ensolarado, dos cinzas no dia chuvoso e dessas cores de fim de tarde que parecem nunca se repetir.





segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre os últimos dias

Eu devo começar este texto já pedindo desculpas pela minha ausência aqui. Eu sei, às vezes a vida toma um ritmo que parece que tudo é rotina, e não há muito o que contar, mas quando se está no intercâmbio (mesmo que longo) e pegamos a passagem de volta nas mãos, percebemos que não há tempo nem para rotina.

No final de semestre, às vésperas dos exames, é quando todos sentamos e calculamos se o tempo passou rápido, ou não. E pela quarta vez eu vejo amigos dizendo que em Coimbra o tempo corre diferente: como é possível fazer tantas coisas e não sentir o tempo? parece que o tempo que passou correu. 

E neste semestre, neste derradeiro semestre, eu terminei fazendo mais coisas do que imaginava: Marrocos, o camping no Saara, depois, Paris! Paris e o meu encantamento quase hipnótico com ela. Na verdade, eu já tentei várias vezes descrever essas viagens aqui, mas não consegui. Como todas as viagens, elas estão em mim, grudadas em minhas ideias e lembranças. Ainda não é tempo de traduzi-las, mas senti-las.

Para além das viagens, para além dos vinhos na cozinha de casa e as tardes com os amigos pelos cafés, ainda teve o meu descobrimento das literaturas africanas, o meu reencontro com Eça de Queiroz com o romanção (tanto de tamanho como de qualidade) O Primo Basílio e as minhas leituras sobre a vida e obra de Lautrec.

Meu último semestre se baseou em tudo isso. Para ilustrar, a foto do céu de hoje a tarde, sobre a Sé Velha*.







*Foto desses aparelhos móveis, me desculpem.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Do sentimento do mundo


De onde nós somos sempre vai dizer alguma coisa sobre nós. Essa é uma sentença que eu escrevo neste momento mas que na verdade está plantada dentro de todo mundo.

Estes dias me encontrei com uma conterrânea matonense, e ao me dizer sobre um problema que ela teve com o aquecedor na casa dela, disse “agora vou torar o pau no aquecedor”. Achei genial. Senti o sol e o cansaço de quem sobe a Sinharinha Frota.

E depois emendei alguns outros pensamentos, na verdade condensei porque esse assunto anda borbulhando na minha mente não é de hoje. O lugar de onde somos é claro que sempre vai nos traduzir em algum momento, mas acho que isso tem uma proporção maior quando se é do interior. 

Durante muito tempo eu não gostei de ser do interior. Mas depois de Coimbra, um período em que passei longe de tudo que me era familiar, eu voltei em agosto muito feliz para o Brasil e muito mais contente para Matão. Passei um final de semana em São Paulo, não entendi muito bem qual é a dessa cidade. Claro, ainda vou achar a maior aventura ficar presa no trânsito, e se tiver enchente, a adrenalina sobe 100%. Mas acontece que até essa minha loucura pelas estações de metrô dá-se porque sou do interior. Se fosse de São Paulo iria xingar como todos.

Matão também me faz ver Coimbra, Porto, Barcelona, Arles, Londres e etc. de um jeito diferente. Eu pego tudo o que essas cidades oferecem e as traduzo em importância para uma menina de Matão. Acho que é porque sou do interior é que sempre vou me impressionar com uma viagem, seja para Oslo ou para Aveiro, aqui do lado.

Outro dia na aula o professor tentando explicar Drummond disse que toda a sua poesia vem a ser o "sentimento do mundo" que um itabirano tem enquanto vive longe de sua terra. E assim é a vida de quem às vezes sai de sua cidade pequena, seja por um final de semana ou pelo resto de uma vida. É o eterno sentimento do mundo dentro de um coração naturalmente pequeno, e talvez por isso transborde tanto.

Fica aqui registrado o charme que os interioranos tem quando dizem “vou este feriado para Itabira, Figueira da Foz, Santo Amaro, Marapoama, Cruz das Almas, Nova Granada, Nova Iguaçú, Matão...”

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Escritos


Uma vez escrevi aqui para dizer que a escrita muitas vezes me serve para organizar as ideias. E agora é um momento para isso.

Porque como disse para uns amigos que andei escrevendo, tive depois dos exames um tempo livre. Um tempo longe da Universidade. Utilizei o período para ler, ver uns filmes, ouvir músicas diferentes e todas essas coisas. Às vezes vem a ser arte da mais alta qualidade, mas também pode ser de uma qualidade nem tão boa e pior do que a arte nem tão boa, é quando ela é duvidosa.

Eu acho muito engraçado e também confuso como a Arte é classificada e, logo, consumida. Na verdade eu tenho uma certa dúvida se  tudo o que lemos o que lemos, ouvimos o que ouvimos e assistimos o que assistimos, se realmente se convertem em valores, e se isso acontece para todos.

Acho que é uma noção absoluta de que a Arte nos faz pensar em quem somos e como levamos a vida. Isso é absoluto sim, o que não é absoluto é o pensar, por intermédio das artes, na sociedade. Pois é, acho que falta isso às pessoas, de transferirem para o mundo o que aprendem além de interiorizar sentimentos e sensações. Mas passar a pensar em tudo, ou melhor, em um pouco mais.

Digo isso obviamente porque estou passando um tempo fora do meu país, e notar as diferenças,tanto do cotidiano como algo mais político-social torna-se inevitável, e portanto penso mais sobre o Brasil, mais sobre o Brasil em relação ao mundo, essas coisas. E mais do que isso, sempre usei como bengala do entendimento a cultura. E desta vez acho que estou mais próxima desse tipo de obras que fazem esse tipo reflexão.

Pois, quando eu tinha uns 15 anos eu ouvia artistas novos e lia os clássicos. Hoje ando ouvindo artistas mais velhos e lendo escritores novos.

Finalizei a leitura de O Filho de Mil Homens, livro de Valter Hugo Mãe que me cativou desde o início pelo título. A linguagem, um pouco de Saramago, nos remete a uma espécie de espaço geográfico relativamente pequeno, no qual as personagens tem as suas vidas e, portanto, seus problemas. Como em toda sociedade, as histórias vão se entrelaçando e os conflitos vão crescendo. Acontece que o narrador, que suaviza as histórias e nos mostra como pensa e como vive cada personagem, nos faz ver que no fim todos têm os seus motivos. E fiquei triste pelo o sofrimento do pobre rapaz que é homossexual, e que geralmente é surrado pelos outros moradores. Tenho mais pena ainda de sua mãe, que apesar dos conselhos de todos, não consegue odiar o filho e sofre em dobro.  Entendo a necessidade de um homem sozinho de ter uma família, e como uma mulher simples espera constantemente pelo o amor, nem que seja um amor piedoso do “homem maricas”. Durante essa leitura ficou bem clara aquela história de que cada um tem seus motivos e como o preconceito pode ser uma coisa natural de quem não tem paciência de pensar no outro, ou, nos outros. Portanto, a crítica mal fundamentada e insensível é a única arma dessas pessoas.

Como eu disse, a história acontece em um espaço pequeno, mas são temas universais. Podemos crescer o espaço o tanto que for, e as histórias vão se repetir.

Fazer essa leitura um pouco mais humanizada não me veio de um estalo. Não, na verdade eu acho que uma ideia puxa a outra e quando percebemos um tema, ou quando passamos a pensar mais nele, parece que tudo o que vemos nos remete a mesma coisa. Digo porque passei a pensar nisso tudo mais claramente quando vi há um tempo duas entrevistas do Caetano, uma mais recente e a outra mais antiguinha, nas quais ele praticamente repete o discurso de que a vida é complicada e cabe a nós saber lidar com ela (afinal, desde que o samba é samba, é assim). E é isso, Caetano, a vida é iminentemente complicada. Não adianta brigar contra isso. Ao contrário, é melhor abrirmos os olhos para os problemas e ao invés de nos refugiarmos somente neles é bom pensá-los. Acho que, e isso eu sempre repito a bons amigos, a nossa existência não pode se limitar a nós mesmos, considerando que muitas vezes os nossos problemas são de ordens mesquinhas. Se pensarmos no mundo até adequamos as nossas sensações a estes quadros universais: preconceito, a pobreza, a nossa política, o descaso com ela e etc.

Andei pensando, juntamente com isso, que como a Arte tem esse poder de nos dizer sobre tantos assuntos e por isso nos fazer refletir sobre problemas humanitários, acho que essas reflexões faz com que busquemos mais informações. E neste papel da Arte eu também acredito: o de parar de segmentar o conhecimento. Ora, eu estudo Literatura, mas não é por isso que só tenho que entender dos gêneros literários e das características técnicas de cada escola. Tenho que pesquisar a história, o contexto...

Vou parar por aqui. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Janeiro de 2013


Devo começar a escrever aqui me desculpando pelo o tanto tempo que estou sem escrever. Isso não quer dizer que não tive tempo, que nada de interessante aconteceu ou que me faltou vontade. Mas para mim, dentro da minha cabeça, o último texto que escrevi foi mais ou menos há duas semanas, mas na verdade foi há meses. Alguma vez eu já disse que o tempo em Coimbra corre diferente? Pois.

E este semestre, seguindo o calendário acadêmico, está se encerrando e eu nem o vi passar. Digo isso porque às vezes sinto tanta saudade dos meus amigos que já se foram, que me parece que eles partiram de manhã, e agora, mais uma vez, o processo de despedida está reaberto. 

Porém, no meio disso tudo ficam registrados na minha memória (memória é um lugar muito mais resistente do que um pen drive ou uma HD externa) grandes momentos. Entre eles essa história de readaptação, de ter que conhecer novas pessoas, viver na mesma casa, mas com pessoas diferentes. Das coisas mais marcantes do semestre ficam: os jantares aqui na nossa cozinha, o camping, o dialeto cabido-bigornês, Londres, Guernica,  a pancada do meu joelho na mesa de centro do hostel de Oslo, as oito disciplinas que loucamente resolvi me matricular, as fotografias, a "aula" de medicina legal...

Neste semestre também fiquei mais tempo dentro do meu quarto, convivendo exatamente comigo. A loucura de Coimbra, lá em baixo na Sé Velha, e eu aqui. Passar um tempo sozinha quer dizer passar um tempo com as palavras, com os desenhos, com as imagens e claro, com o futuro, com os planos.

E entre todos esses fenômenos de um intercâmbio, e entre todas as despedidas que passei e ainda vou passar, estou iniciando o meu último semestre. O que é algo tão sinistro quanto o primeiro semestre.

E só me dei conta disso exatamente quando acordei no dia 1 de janeiro, e mais, ainda não fui a Itália e nem a Paris. Coimbra, desacelere esse relógio. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Cada pessoa tem a idade com que nasceu. Se nasceu com 20 anos, tem 20 anos; se nasceu com 80, tem 80.”(*)


Essa foto foi tirada no início do último verão. Estava em viagem pelo Sul da França.
Mas ela não é minha, é de um amigo e única companhia durante a viagem. Quando a vi pela primeira vez, e isso foi há poucos dias, eu lembrei exatamente da hora em que foi tirada, em que parte de Carcassonne estávamos e o que estávamos esperando. Depois, eu lembrei do sol, do forte sol de meio dia, de um dia de verão. E também consegui repassar todo o resto do nosso trajeto, que foi de volta a casa.

Apesar de eu ter 22 anos, eu sinto uma memória tão extensa dentro de mim, a ponto de achar que minha mente tem 80. 

Eu sei que todos tem memórias, mas creio que algumas pessoas as sentem mais do que as outras. E é por isso que eu sou, portanto, aquele tipo de velha que adora ouvir as histórias dos amigos. 


(*) Estava pensando em isso tudo, quando encontrei essa frase, que eu chamaria de sentença, de António Lobo Antunes.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Das coisas que eu fiz - Parte 3


Depois de Oslo, fomos para o local que me era esperado. Estou dizendo de Londres. Foi muito bom ter deixado Londres por último, porque viagens são ótimas, mas acontece que tenho essa velha dentro de mim, e depois de quase 9 dias viajando, é bem provável que eu esteja cansadinha. Cansadinha, mas não em Londres.

Devo dizer que a cidade não é tão calma como eu estava esperando. Ao contrário disto, há muitas obras, muitos carros e pessoas. Aliás, dentro do último grupo estão os turistas. Sei que estou sendo um pouco hipócrita agora, mas os turistas um pouco que poluem o espaço, e tenho a impressão de que não conheço realmente o ambiente, apenas um lugar que as pessoas gostam de fotografar. Às vezes nem sinto a real atmosfera do lugar. Turistas, tenham calma.

Mas, como estava dizendo, se Londres é movimentada, ela é muito silenciosa pelo o tanto de pessoas que há nela. É bem verdade que o meu parâmetro de cidade grande, de cidade importante,  é São Paulo. E talvez São Paulo não seja parâmetro para nada. São Paulo é uma cidade que toda a sua loucura, é só dela.

Quando chegamos, teve uma certa decepção: chuva, vento e frio. Porém, eu pensei um pouco e cheguei a conclusão de que Londres estava me tratando como se eu fosse uma moradora comum, isto soou como um elogio a mim. A decepção passou. E fomos explorar a cidade, andar e andar.

No segundo dia o sol apareceu. E fomos conhecer o Palácio de Buckingham, o Big Ben, Abadia de Westminster, Picadilly... e depois teve aquele roteiro específico, aquele roteiro, que além de ser de turista, mas de quem realmente queria estar em Londres: Soho, Abbey Road e Notting Hill.

Notting Hill merece além de um parágrafo, meu coração. É bem verdade que há aquele filme com Hugh Grant e Julia Roberts. Mas este bairro me pareceu injustiçado por ser lembrado por causa de um filme comédia romântica. Portobello Road tem toda a sorte de lojas de antiguidades: móveis, câmeras, discos, roupas... Bancas com placas engraçadinhas. Casas bem cuidadas, flores que parecem durar todas as estações. Mais uma vez vou ser hipócrita: acho que moraria em Notting Hill.

No terceiro dia fomos ao museu, ao National Gallery. E o museu tem Van Gogh, tem Leonardo da Vinci, Rubens, Van Eyck... Obras que eu fico emocionada de estar frente a frente, sempre. Mas além das obras, gostei muito do ambiente, e eu, como uma futura professora, fiquei com inveja dos londrinos. Digo isso porque perdi a conta de quantos grupos de crianças com seus professores eu vi visitando o museu. As crianças sentavam-se no chão, e ouviam a explicação dos professores, e estes falavam sobre a tela, sobre o artista, o movimento que ele se encaixa, e mais do que isso, explicavam sobre a época. Vi aquele conceito de interdisciplinaridade dar certo pra valer. Algumas coisas fazem sentido.

E depois de 9 dias, voltamos para casa. Com uma mochila de roupas sujas, com máquinas fotográficas com memórias quase lotadas. E com nossas mentes pulsando de vontade de sentar e repassar toda a nossa viagem em nossos blogs.