sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Das coisas que eu fiz - Parte 1


Desde quando voltei a Portugal andei fazendo muitas coisas. Umas foram planejadas durante a minha vida toda, enquanto que outras foram decididas em 15 minutos (e nem por isso são menos importantes).
Vou começar escrevendo sobre as viagens. Viagem é uma coisa louca de se fazer, às vezes você vai esperando ver aqueles lugares de cartões  postais, porém você chega e percebe que é mais, os lugares tem vida, tem pessoas andando por eles, tem cheiro, tem calor e frio. E tudo é tão característico, é tão diferente e único. Às vezes eu viajo com ar blasé e volto pra casa já chorando de saudade deste novo local.

Madrid foi praticamente assim. Muita gente diz “prefiro Barcelona”. Eu entendo e eu viajei achando que preferiria Barcelona. Mas aí, Madrid apelou comigo. Essas cidades espanholas tem um ar de filme do Almodóvar que não é fácil. Parece que todo mundo é cult, que todo mundo entende de combinar cores ao mesmo tempo que são seguras de si, por isso não tem medo de arriscar (seja na roupa, na cor do cabelo, nos acessórios...). Madrid é urbana, urbana e com uma arquitetura linda. Porém, mesmo com essa cidade super bonita, foi dentro dos museus que ela me fez estremecer.

O Museu do Prado era por o que eu estava ansiosa. Museu do Prado é um nome que ouvi tanto, seja nos livros, na sala de aula, por bons amigos, ou por conhecidos pedantes, que parecia que na verdade ele nem existia, era só uma coisa que as pessoas gostam de citar. Mas ele está lá. Ele existe. E é imenso, daqueles que não dá pra ver tudo. Meu amigo Michael e eu traçamos um plano, pegamos o mapa do museu e fizemos uma estratégia para a visita. Só assim para aproveitar o espaço.

Do Prado se tem uma coisa que vou lembrar pra sempre vai ser As Meninas de Velázquez. Fui apresentada a essa pintura quando tinha 10 anos, quando estava na quarta série. Ele estava no meu livro de Português como exemplo de metalinguagem, fora do texto escrito. Me lembro perfeitamente daquela aula, me lembro até do local em que eu sentava na sala. Me lembro que era depois do intervalo, ela na sala do segundo andar e era a professora Silvana. Aliás, ela explicou muito bem, tão bem a ponto de até hoje usar a explicação dela quando vejo o quadro por aí. Enfim, tudo isso para dizer que ele está lá, lá no Prado. Foi lindo vê-lo pessoalmente, e poder analisar o pouco que eu sei frente a frente. A tela é grandona, como eu imaginava.




Esse quadro, na verdade, me deixou com a ideia fixa de assaltar o museu. Buscá-lo e levar para Matão. Levar para minha casa e todas as noites, antes de dormir, eu poder espiá-lo, só para ter certeza de que ele e todos os seus elementos, de fato existem. Mas, enfim, por enquanto deixa essa história pra lá.
Se do Prado eu esperava muito, do Reina Sofia eu estava indo porque todo mundo aconselha. As grandes atrações pra mim seria Dalí e Picasso. Mas, veja bem, eu não entendo muito de Surrealismo, e Picasso eu já tinha visto em um museu só dele em Barcelona. Aham, eu adoro quando eu tenho essa sensação de que já vi muitas coisas, e quando chega na hora, eu fico maluca, fico mais emocionada do que quem realmente estava esperando por aquilo.

Dalí foi mágico. Quando eu comecei a ver as suas telas, na verdade, logo na primeira, eu compreendi o surrealismo. Entendi, em um clique dentro da minha mente, que eles pintam sensações, é o subjetivismo através das tintas e das figuras.

Depois fui ver esse tal de Picasso. Gosto bastante de suas obras, principalmente porque através delas eu vejo que até mesmo os gênios estudam, aprimoram os seus trabalhos e experimentam. Ninguém nasce pintando igual Picasso, nem Picasso.

Enfim, nas obras de Picasso, no final da sala, tinha um outra sala, e eu estava sentindo que alguma coisa estava  acontecendo. E estava. Guernica estava lá. E eu que já estava a esperando, percebi que não estava esperando da forma certa.

Agora toda vez que eu me chatear nessa vida, eu vou fechar os olhos e pensar: Dane-se. Eu vi Guernica.


Eu não sou doida de estar falando assim. Essa tela está em muitos livros de Artes, é geralmente apresentada em uma imagem pequenininha e com uma nota de rodapé: Picasso, pintor cubista. A minha sorte é que tive boas aulas de Artes. Tive um professor que projetou o quadro na lousa e explicou tudo: A Guerra Civil Espanhola, o bombardeio, a luz elétrica, a tourada, o Cubismo, a condição de Picasso de que a obra deveria ser exposta quando não houvesse Guerra, e deveria ser exposta na Espanha. Pois é, destes livros para a vida real. Para os meus olhos. Guernica é uma tela-painel. Gigante. Um muro praticamente. Gostei de ver pessoalmente justamente pra ver que a coloração não é tão azul, e nem é tão cinza, como esses livros costumam discordar uns dos outros e principalmente do quadro.

Fui embora do Reina Sofia sem me entender. O museu espanhol, além de ter este acervo, tem instalações fantásticas. Me lembro que saímos de repente em uma sala com câmeras fotográficas antigas, expostas lindamente em uma sala decorada de estúdio de fotografia. Assisti excertos de Goddard e O Cão Andaluz (mais uma vez). Vi Kandinsky. Descobri mais uma dúzia de artistas. O Reina Sofia é o motivo de eu querer voltar a Madrid.


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