Uma vez escrevi aqui para dizer que a escrita muitas vezes
me serve para organizar as ideias. E agora é um momento para isso.
Porque como disse para uns amigos que andei escrevendo, tive
depois dos exames um tempo livre. Um tempo longe da Universidade. Utilizei o período para ler, ver uns filmes, ouvir músicas diferentes e todas
essas coisas. Às vezes vem a ser arte da mais alta qualidade, mas também pode
ser de uma qualidade nem tão boa e pior do que a arte nem tão boa, é quando ela
é duvidosa.
Eu acho muito engraçado e também confuso como a Arte é
classificada e, logo, consumida. Na verdade eu tenho uma certa dúvida se tudo o que lemos o que lemos, ouvimos o que ouvimos e assistimos o que assistimos, se
realmente se convertem em valores, e se isso acontece para todos.
Acho que é uma noção absoluta de que a Arte nos faz pensar em
quem somos e como levamos a vida. Isso é absoluto sim, o que não é absoluto é o
pensar, por intermédio das artes, na sociedade. Pois é, acho que falta isso às
pessoas, de transferirem para o mundo o que aprendem além de interiorizar
sentimentos e sensações. Mas passar a pensar em tudo, ou melhor, em um pouco
mais.
Digo isso obviamente porque estou passando um tempo fora do
meu país, e notar as diferenças,tanto do cotidiano como algo mais
político-social torna-se inevitável, e portanto penso mais sobre o Brasil, mais
sobre o Brasil em relação ao mundo, essas coisas. E mais do que isso, sempre
usei como bengala do entendimento a cultura. E desta vez acho que estou mais
próxima desse tipo de obras que fazem esse tipo reflexão.
Pois, quando eu tinha uns 15 anos eu ouvia artistas novos e
lia os clássicos. Hoje ando ouvindo artistas mais velhos e lendo escritores
novos.
Finalizei a leitura de O Filho de Mil Homens, livro de Valter Hugo Mãe que me cativou
desde o início pelo título. A linguagem, um pouco de Saramago, nos remete a uma
espécie de espaço geográfico relativamente pequeno, no qual as personagens tem
as suas vidas e, portanto, seus problemas. Como em toda sociedade, as histórias
vão se entrelaçando e os conflitos vão crescendo. Acontece que o narrador, que
suaviza as histórias e nos mostra como pensa e como vive cada personagem, nos
faz ver que no fim todos têm os seus motivos. E fiquei triste pelo o sofrimento
do pobre rapaz que é homossexual, e que geralmente é surrado pelos outros
moradores. Tenho mais pena ainda de sua mãe, que apesar dos conselhos de todos,
não consegue odiar o filho e sofre em dobro.
Entendo a necessidade de um homem sozinho de ter uma família, e como uma
mulher simples espera constantemente pelo o amor, nem que seja um amor piedoso
do “homem maricas”. Durante essa leitura ficou bem clara aquela história de que
cada um tem seus motivos e como o preconceito pode ser uma coisa natural
de quem não tem paciência de pensar no outro, ou, nos outros. Portanto, a crítica
mal fundamentada e insensível é a única arma dessas pessoas.
Como eu disse, a história acontece em um espaço pequeno, mas
são temas universais. Podemos crescer o espaço o tanto que for, e as histórias
vão se repetir.
Fazer essa leitura um pouco mais humanizada não me veio de
um estalo. Não, na verdade eu acho que uma ideia puxa a outra e quando percebemos
um tema, ou quando passamos a pensar mais nele, parece que tudo o que vemos nos
remete a mesma coisa. Digo porque passei a pensar nisso tudo mais claramente quando vi há um tempo duas
entrevistas do Caetano, uma mais recente e a outra mais antiguinha, nas quais
ele praticamente repete o discurso de que a vida é complicada e cabe a nós
saber lidar com ela (afinal, desde que
o samba é samba, é assim). E é isso, Caetano, a vida é iminentemente
complicada. Não adianta brigar contra isso. Ao contrário, é melhor abrirmos os
olhos para os problemas e ao invés de nos refugiarmos somente neles é bom
pensá-los. Acho que, e isso eu sempre repito a bons amigos, a nossa existência
não pode se limitar a nós mesmos, considerando que muitas vezes os nossos
problemas são de ordens mesquinhas. Se pensarmos no mundo até adequamos as
nossas sensações a estes quadros universais: preconceito, a pobreza, a nossa
política, o descaso com ela e etc.
Andei pensando, juntamente com isso, que como a Arte tem
esse poder de nos dizer sobre tantos assuntos e por isso nos fazer refletir
sobre problemas humanitários, acho que essas reflexões faz com que busquemos mais informações. E neste papel da Arte eu também acredito: o de parar
de segmentar o conhecimento. Ora, eu estudo Literatura, mas não é por isso que
só tenho que entender dos gêneros literários e das características técnicas de
cada escola. Tenho que pesquisar a história, o contexto...
Vou parar por aqui.